Junho é o mês do orgulho LGBTQIA2S+ em vários países do mundo. Durante este mês, a comunidade celebra as contribuições feitas por seus membros para a história, sociedade e cultura em todo o mundo. Como é que tudo começou? E onde estamos agora a nível do respeito dos direitos LGBTQ+?
Ao andar pelas ruas de Toronto durante o mês do orgulho LGBTQ+, não posso deixar de ver bandeiras arco-íris por toda parte. Claro que existe The Village, um bairro LGBTQIA2S+, muito colorido como sempre, mas as outras partes da cidade também estam pintadas de todas as cores e ninguém se pode esquecer que a comunidade existe. Essas bandeiras também me fazem refletir sobre as diferenças entre o Canadá e a Europa. Parece que aqui ninguém precisa de esconder quem é porque é aceito de qualquer maneira. E talvez que é razão pela qual o Canadá é assim venha da sua proximidade com os Estados Unidos, especialmente Nova York, onde ocorreu a primeira marcha do orgulho LGBTQ+ em 1970.
Embora os gays, as lésbicas, as pessoas transgénero e queer tenham sempre existido, seus direitos não foram sempre reconhecidos ou respeitados. Historicamente como o resto do mundo não estava disposto a aceitá-las, as pessoas LGBTQIA2S+ criaram uma comunidade e reuniram-se em espaços secretos onde podiam ser elas mesmas. Foi assim que as coisas funcionaram duramte muito tempo em todo o globo. Mas esses espaços eram por vezes descobertos e, nesses casos, a comunidade enfrentava violência muitas vezes levando à morte. Porém, em 28 de junho de 1969 no Stonewall Inn, um bar no bairro de Greenwich Village em Manhattan (NY, EUA), o Departamento de Polícia de Nova York invadiu o local e, naquela noite, algo diferente aconteceu. A polícia enfrentou muito mais resistência do que o normal.
Os conflitos intensificaram-se rapidamente e provocaram seis dias de protestos e confrontos violentos entre a polícia e a comunidade em todo o bairro. Quando a insurreição de Stonewall terminou em 2 de julho, o movimento pelos direitos LGBTQIA2S+ deixou de ser uma questão marginal amplamente ignorada por políticos e pelos media, para ser notícia de primeira página em todo o mundo. Um ano depois, realizou-se a primeira marcha do orgulho LGBTQ+ para comemorar a revolta.
Desde então, o movimento cresceu bastante e muitas cidades em todo mundo celebram a comunidade, mesmo em países onde a repressão e a violência contra pessoas LGBTQIA2S+ são comuns. Mas onde estamos agora a nível do respeito dos direitos LGBTQ+?
Na Suíça, tive a oportunidade de votar a favor do casamento homossexual, adoção para os casais homossexuais e acesso à fertilização in vitro para as lésbicas em 2021. Portanto, mesmo num país considerado progressista, esses direitos só foram respeitados desde o ano passado. Recentemente, a Estônia também votou a favor do casamento homossexual que entrará em vigor em janeiro de 2024. Ultimamente, a Islândia votou pela proibição da "terapia de conversão", juntando-se a países como o Canadá, a Nova Zelândia, o Brasil, o Equador, a Espanha, a Alemanha, a França, Malta e Chipre, entre outros.
Por outro lado, alguns direitos foram retirados em 2023. Por exemplo, nos Estados Unidos, "mais de 75 projetos de lei anti-LGBTQ+ foram assinados apenas neste ano, mais do que dobrando o número do ano passado, que foi anteriormente o pior ano já registrado" declarou em junho Humans Rights Campaign, um dos principais grupos de defesa dos direitos LGBTQ+ nos EUA.
No entanto tenho esperança que a sociedade está a evoluir. Por exemplo, estados como Texas, Tennessee e Flórida, onde muitos projetos de lei anti-LGBTQ+ foram assinados, foram duramente criticados a nível nacional e internacional. O mesmo aconteceu em Uganda, onde uma das leis anti-LGBTQ+ mais duras do mundo foi assinada este ano. Países em todo mundo criticaram Uganda e ameaçaram impor-lhe sanções. Hoje em dia, é cada vez mais difícil para os governos não respeitar os direitos LGBTQIA2S+. O que significa que a sociedade evoluiu e que já não toleramos nenhuma violação dos direitos humanos.
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