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Foto do escritorAndreia

Será o ecofeminismo a solução?

O que acontece quando o feminismo se junta ao movimento ecológico? Segundo Asmae Ourkiya, doutore, pesquisadore e ativista ecofeminista, o feminismo traz diferentes perspetivas para perceber as questões ambientais. "E precisamos dessas diferentes perspetivas para combater as mudanças climáticas".


Já ouviu falar de ecofeminismo? Essa palavra existe desde 1974, quando a feminista francesa Françoise d'Eaubonne cunhou a designação. Mas ela não inventou o movimento. O ecofeminismo começou nos anos 1970 como um movimento nos países do sul, onde a exploração das terras era significativa. Grupos de mulheres, como Chipko Andolan na Índia, tomaram a iniciativa de proteger suas terras do desmatamento e outras formas de exploração. "Na verdade, começou com mulheres a dizer 'basta!' antes de ser uma teoria crítica nas universidades", explica Asmae Ourkiya. E para elu, é muito importante lembrar de onde vem. "O problema que tenho com Françoise d'Eaubonne é que ela apropriou-se da palavra numa perspectiva feminista branca e que as mulheres do sul e as mulheres indígenas não receberam mérito suficiente", acrescenta ê ativista.


Mas por que o ecofeminismo é importante hoje em dia?


Num mundo globalizado onde tudo parece mais complexo do que nunca, a interseccionalidade destaca a realidade de muitas pessoas: elas são oprimidas pela combinação de vários sistemas baseados em fatores como o gênero, a cor da pele, a sexualidade, a classe social, etc. "O ecofeminismo reconhece que certos grupos de pessoas são afetados desproporcionalmente pelas mudanças climáticas e reconhece que, para abordar as questões ambientais, precisamos de entender como essas opressões se sobrepõem", explica Asmae Ourkiya. "Há um reconhecimento crescente de que as mulheres e as questões de gênero em geral são essenciais para a ação climática e vice-versa", acrescenta.


Como teoria crítica, o ecofeminismo "interroga estruturas de poder estabelecidas, ideologias e normas sociais para revelar como elas moldam a sociedade hoje", de acordo com ê doutore. Como movimento, "ele pressiona para criar mudanças nos sistemas, tentando alterar as leis e a maneira como os sistemas funcionam", explica. E tudo faz sentido quando pensamos em certas indústrias como a moda. As trabalhadoras de sweatshop são predominantemente mulheres e os seus direitos humanos são constantemente violados. Além disso, o custo ambiental desta indústria é gigantesco. Por exemplo, um estudo de 2020 afirma que "os impactos da indústria da moda incluem mais de 92 milhões de toneladas de resíduos produzidos por ano e 79 bilhões de litros de água consumidos".


"Se não reconhecemos certas pessoas, especialmente no Sul, como parte do meio ambiente, como podemos promover uma cultura e protegê-la? Essas pessoas não são vistas como parte da cultura e do meio ambiente que queremos proteger, portanto não há garantia para elas de ter uma qualquer segurança no local de trabalho e de ter um local de trabalho não poluído. Como podemos esperar que as pessoas cuidem e protejam o planeta quando não recebem proteção e cuidado da parte do resto do mundo? Como podemos esperar que elas façam algo que elas próprias não recebem?", pergunta Asmae Ourkiya.


"Quando a pandemia começou, o primeiro-ministro aqui na Irlanda disse que estávamos todos juntos nisso. E comentei que estávamos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco. Alguns estavam em iates e outros tentavam não se afogar."

Para elu, o ecofeminismo é essencial para um futuro melhor e recomenda a leitura dos artigos de Greta Gaard e Ariel Salleh sobre o tema do ecofeminismo e da revista online canadiana Niche para entender melhor o assunto. "Muitas mulheres no mundo ainda lutam para abolir o femicídio, a violação conjugal, os casamentos de crianças forçados. Enquanto houver países que incentivam leis contra as liberdades individuais e legislação sexista, precisamos do feminismo e do ecofeminismo. Porque o feminismo não é só para as mulheres é para todos" declara.


Sem o feminismo, as questões ambientais são vistas através de lentes androcêntricas, argumenta ê ativista. Isso significa que a mudança climática é vista por uma perspetiva masculina, branca e privilegiada, que não vê os problemas das pessoas que não encaixam nessa definição. "Por exemplo, quando começou a pandemia, o primeiro-ministro aqui na Irlanda disse que estávamos todos no mesmo barco. E eu comentei que estávamos na mesma tempestade, mas não necessariamente no mesmo barco. Alguns estavam em iates e outros tentavam não se afogar", diz elu.


Através da perspetiva ecofeminista, perguntei a Asmae Ourkiya: se elu tinha o poder de mudar as coisas da noite para o dia, o que elu faria. E para elu, o mais importante seria de mudar o sistema educacional.


"Um passo importante é integrar a terapia à educação. Acredito que muitos homens, rapazes ou pessoas designadas como homens ao nascer têm a carga de ter de ser machistas, de não poder expressar seus sentimentos e, com o tempo, isso leva a líderes problemáticos como Trump ou Bolsonaro. Então, para mim, trata-se de promover uma cultura de cuidado no sistema educacional. Também acho que deveríamos incluir a educação ambiental em todos os currículos. A maioria das pessoas vive nas cidades e estamos desconectados do que é o meio ambiente", explica.


E essa desconexão com a natureza também faz parte do trabalho de pesquisadore para integrar a ecologia queer ao ecofeminismo. Segundo elu, “a ecologia queer desafia o antropocentrismo, ou seja a crença de que os humanos estão acima de todos os outros seres do planeta, que são superiores. O antropocentrismo é desafiado ao separar a noção de que somos superiores à natureza e ao trazer os humanos de volta à natureza. A ecologia queer também desafia a heteronormatividade porque existem muitos exemplos de hermafroditismo e homossexualidade em outras espécies e, portanto, essas coisas não podem ser vistas como desviantes ou não naturais.



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