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O que fazer acerca da epidemia de solidão?

Sente-se às vezes só? Ora bem, não está só neste caso! De acordo com um relatório do Making Caring Common, um projeto da Escola de Pós-Graduação em Educação de Harvard, há uma epidemia de solidão nos Estados-Unidos e, até diria, que esta situação é global. E parece ter aumentado substancialmente desde o início da pandemia.



O relatório de Harvard sugere que 36% dos americanos – incluindo 61% dos jovens adultos e 51% das mães com filhos pequenos – sentem “solidão grave”, que é definida pelos investigadores como sentir-se só “frequentemente”, “quase sempre” ou “todos os dias”. Além disso, 43% dos jovens adultos relatam sentir mais solidão desde o início da pandemia. Cerca de metade destes jovens adultos acrescentam que ninguém nas últimas semanas “dedicou mais do que alguns minutos” para perguntar como estavam de uma forma que os fizesse sentir amados.


No entanto – como afirmam os autores do relatório – estes dados devem ser considerados preliminares porque baseiam-se num inquérito online a aproximadamente 950 americanos. Porém, outro inquérito realizado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA confirma estas conclusões. De acordo com o CDC, os jovens adultos sofrem altas taxas de solidão, ansiedade e depressão. Além disso, 63% dessas pessoas sofrem de sintomas significativos de ansiedade ou depressão.


Esses números são alarmantes e mostram que algo não está bem na nossa sociedade. Mas antes de explorar algumas soluções, o que é a solidão?


Solidão não é o mesmo que estar só. Os cientistas definem a solidão como a diferença entre as conexões sociais que alguém gostaria de ter e o que realmente sente e vive. A solidão, ao contrário de estar sozinho, é subjetiva. Estar só é um estado objetivo e pode ser medido como a ausência de conexões sociais. Também é importante notar que estar sozinho pode ser um estado de exploração positiva para perceber quem somos e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.


Existem três tipos diferentes de solidão. O primeiro tipo é a solidão psicológica e é a mais retratada nos media. “Existe alguém em quem você pode confiar?” “Sente que alguém o/a protege?” O segundo tipo de solidão é a solidão social e é sentida quando alguém é sistematicamente excluído da sociedade por causa de seu gênero, raça, deficiência, etc. O terceiro é a solidão existencial ou espiritual e é a falta de propósito ou conexão com algo maior. Esses diferentes tipos de solidão foram relatados pelos entrevistados na pesquisa de Harvard. Por exemplo, a maioria dos jovens adultos disse que não sentia sentido ou propósito nas suas vidas.


As consequências da solidão podem levar a resultados negativos para a saúde, comparáveis a fumar 15 cigarros por dia.

Embora sentir-se só ocasionalmente seja uma experiência muito humana, acaba por ser um problema quando há uma incapacidade de conter esse sentimento. E certas estruturas da sociedade tornam isso ainda mais difícil. Por exemplo, as redes sociais criam uma forma específica de interagir com as pessoas e a falta de envolvimento pode afetar imediatamente o sentido de identidade, a autoestima e a confiança de uma pessoa.


Além disso, alguns fatores tornam certas pessoas mais propensas a se sentirem sós e esse sentimento fica fora de controlo. Jeremy Nobel, autor de “Project UnLonely”, chama esses fatores "territórios de solidão" e identifica cinco deles no seu livro. O primeiro é o trauma. Segundo o autor, cérebros traumatizados levam a mentes e comportamentos traumatizados, todos relacionados com a esquiva e, assim, aumentam o risco de desconexão. O segundo território é o da doença porque altera a compreensão que as pessoas têm de si mesmas e de como se relacionam com os outros. O terceiro fator é o envelhecimento. À medida que as pessoas envelhecem, perdem amigos, familiares e as suas próprias faculdades, o que desafia seriamente a capacidade de estabelecer e manter ligações. O quarto é a diferença; seja de género, raça, deficiência ou qualquer outra coisa, estas diferenças muitas vezes marginalizam as pessoas de uma forma que as torna muito mais suscetíveis à solidão. E o quinto território é a modernidade porque aumenta a divisão política, e as redes sociais são utilizadas principalmente com base na comparação.


As consequências da solidão podem levar a resultados negativos para a saúde, comparáveis a fumar 15 cigarros por dia. Por exemplo, a solidão aumenta de 30% o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, de 40% o risco de demência e de 50% o risco de diabetes. A solidão também está fortemente relacionada à ansiedade e à depressão. Além disso, a investigação mostra que o próprio cérebro solitário reinterprete sinais ambíguos como negativos e torna-se muito mais impulsivo; ou seja, reduze o patamar de ação, interpreta excessivamente as ameaças negativas e torna-se mais emocional quando toma decisões, em vez de ser racional.


Então, o que podemos fazer para mudar esta situação?


Segundo o relatório de Harvard, o primeiro passo é reconhecer que a solidão é um sentimento comum e não é culpa de ninguém. Conforme explicado acima, a solidão provém de uma combinação de fenómenos sociais e culturais e, portanto, ninguém deve sentir-se envergonhado ou culpado porque isso pode reduzir a probabilidade de criar conexões com os outros.


O próximo passo é educar as pessoas sobre o tema e fornecer-lhes informações e estratégias – incluindo campanhas de educação pública – que possam ajudá-las a lidar com a solidão, identificá-la e gerir os pensamentos e comportamentos autodestrutivos que alimentam a solidão.


Os investigadores também recomendam a construção de infraestruturas sociais a todos os níveis do governo e nas comunidades. Portanto, repensar e redesenhar nossas relações sociais na saúde, nas escolas e nas outras instituições. Por último, precisamos também de trabalhar para restaurar os nossos compromissos uns com os outros, especialmente com aqueles que são vulneráveis, e com o bem comum. Basicamente, precisamos de pôr as conexões humanas ao centro da nossa sociedade.

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