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Foto do escritorAndreia

O Campeonato do Mundo feminino de futebol acabou, mas a luta pela igualdade não

O Mundial 2023 organizado pela Nova Zelândia e Austrália acabou, a Espanha ganhou, mas o maior vencedor é a FIFA que acumulou uma receita de 570 milhões de dólares. Vamos recapitular e comentar sobre os bons e menos bons acontecimentos dos últimos dias…


Desde o primeiro dia do Campeonato do Mundo feminino de futebol, recordes foram quebrados.


Para o primeiro jogo da seleção da Nova Zelândia, 42'137 pessoas compareceram para assistir ao jogo: foi o maior público a assistir a uma partida de futebol na Nova Zelândia (masculino ou feminino). Para o jogo da Austrália contra a Dinamarca, 6,54 milhões de pessoas assistiram ao jogo através do canal de TV Seven Network, mais do que para as maiores finais do país em 2022, ou seja as grandes finais da National Rugby League e da Australian Football League.


Além desses números impressionantes, o resto do mundo também seguiu o campeonato com muito interesse, mesmo quando muitos jogos estavam fora dos horários com maior audiência. Por exemplo, apesar de começar às 5 horas da manhã no fuso horário do leste dos Estados Unidos, 2,52 milhões de telespectadores americanos acompanharam o jogo da sua equipa contra a Suécia na Fox (chegando aos 4,07 milhões). E a estreia do Brasil contra o Panamá rendeu uma audiência combinada de 13,9 milhões de pessoas na TV Globo e na SporTV.

Esses números mostram que as pessoas não estavam apenas interessadas no futebol feminino, mas também empenhadas em mostrar seu apoio.


Esses números também foram usados por Gianni Infantino, presidente da FIFA, para contradizer as críticas durante a Convenção de Futebol Feminino da FIFA. Para ele, expandir o torneio para 32 equipas acabou sendo um sucesso e "a FIFA tinha razão" em fazer isso. Ele também encorajou as mulheres a continuar a lutar por mudanças. "Eu digo a todas as mulheres – e vocês sabem que tenho quatro filhas, então tenho algumas em casa – que vocês têm o poder de mudar", declarou o presidente da FIFA.


Com isso tudo parece que o futebol feminino finalmente ganhou o reconhecimento que precisava, certo? Errado!


Durante o seu discurso condescendente, Infantino também disse às mulheres para "escolher as batalhas certas", aludindo à reivindicação das jogadoras por salários iguais aos homens.


"Escolham as lutas certas. Têm o poder de mudar e de convencer-nos, nós homens, do que devemos e do que não devemos fazer. Com os homens e a FIFA encontraram portas abertas. Basta empurra-las", disse.


Antes do início do Campeonato do Mundo, o sindicato global de jogadores FIFPRO fez pressão para garantir que parte dos fundos fosse diretamente para as jogadoras. Embora o sindicato conseguiu o que queria, o recorde de 110 milhões de dólares de prêmio para este Mundial está bem abaixo dos 440 milhões de dólares oferecidos às equipas no evento masculino do ano passado no Qatar.


E isso apesar do fato do evento ter rendido mais de 570 milhões de dólares em receita. Como Gianni Infantino declarou: "geramos a segunda maior receita de qualquer desporto além do Mundial masculino. Não há muitas competições, mesmo no futebol masculino, que gerem mais de meio milhar de dólares".


Para o presidente da FIFA, igualdade salarial não resolve nada "porque é um mês cada quatro anos e só são algumas jogadoras entre milhares e milhares de jogadoras".


Após seu discurso, Infantino recebeu críticas de várias atletas que lutam por seus direitos, inclusivamente da ex-vencedora da Bola de Ouro Ada Hegerberg, que escreveu ironicamente no X (antigo Twitter): "Estou a trabalhar numa pequena apresentação para convencer homens. Quem está comigo?"


Jogadoras de vários países têm disputado com suas federações na preparação para o Campeonato do Mundo sobre salários, tratamento e profissionalismo dispensados às seleções femininas. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.


Por exemplo, enquanto Luis Rubiales, presidente da federação espanhola de futebol, distribuía medalhas de ouro às jogadoras após a vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra, ele beijou uma das jogadoras, Jenni Hermoso, na boca. Num vídeo postado no Instagram e no YouTube pelo jornal El Mundo e outros meios de comunicação, ela disse às colegas no vestiário "não ter gostado do gesto".


Embora Rubiales tenha sido criticado por ministros do governo espanhol e exigido a dar explicações e pedir desculpas, esse gesto nunca aconteceria num evento de futebol masculino.


Em termos de igualdade, as mulheres quer no futebol ou noutros desportos (e noutras áreas da vida) ainda têm muitas batalhas pela frente. Mas esse Mundial mostrou que as mulheres ocupam aos poucos mais espaço e que certas atitudes já não são toleradas.

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